Acredite se quiser, no diário de Einstein, o físico alemão Albert usou termos como “brasileiros macacos” em seus escritos durante uma viagem à América do Sul em 1925, segundo um livro recém-lançado no Brasil em maio.
O livro “Os diários de viagem de Albert Einstein: América do Sul, 1925”, saiu pela editora Record. Ele traz uma compilação dos relatos do cientista durante sua passagem rápida pelo Brasil, Uruguai e Argentina, ao longo de três meses.
Segundo a editora, os documentos mostram – sem censura – um homem peculiar, violinista apaixonado, espirituoso e carismático, mas também intolerante e rabugento, revelando o ser humano comum, com todos os seus defeitos e preconceitos, por trás do gênio e do maior físico da história.
“Às 12h, na casa do Prof. Castro, legítimo macaco, mas companhia interessante”, escreveu Einstein. Ele falava do professor Aloísio de Castro, na época o diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
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Via Folha PE
Em outro trecho, o criador da Teoria da Relatividade afirma: “Aqui sou uma espécie de elefante branco para os outros, eles são macacos para mim”.
De acordo com a introdução do livro, organizada pelo historiador Ze’ev Rosenkranz, esses trechos mostram que, mesmo quando expressava opiniões positivas sobre seus anfitriões, Einstein mantinha uma postura “paternalista em relação à população local em geral”.
Falou sobre o Brasil
O diário de Einstein também fez menções às paisagens naturais do país. O Rio de Janeiro, por exemplo, é descrito como tendo penhascos gigantes que causam uma “impressão majestosa”.
Em outro trecho, ele destaca que a vegetação supera as narrativas das Mil e Uma Noites, afirmando que “tudo vive e prospera (…) sob os próprios olhos”.
Essas descrições, no entanto, acompanham referências ao racismo comum na Europa do século XIX e início do século XX, como o determinismo geográfico, que atribuía ao clima uma influência decisiva no desenvolvimento intelectual.
Referindo-se a alguns de seus interlocutores no Brasil, Einstein afirmou que eles aparentemente foram “amolecidos pelos trópicos” e que o clima local não era adequado para europeus.
“É difícil não ver esta observação como uma expressão da superioridade europeia”, afirma a introdução do diário de Einstein sobre trechos como o acima. O físico também criticou a eloquência e os “floreios linguísticos” demonstrados por seus anfitriões brasileiros em reuniões e palestras, atribuindo-os ao clima.
Biografia
Em 1925, Albert Einstein, já renomado mundialmente pela formulação da Teoria da Relatividade, realizou uma viagem ao continente sul-americano, visitando Brasil, Uruguai e Argentina.
Esta jornada fazia parte de uma série de viagens internacionais que Einstein empreendeu na década de 1920, período em que ele aproveitou para disseminar suas teorias e estabelecer colaborações científicas ao redor do mundo.
Durante sua estadia na América do Sul, Einstein recebeu um convite para dar palestras e conferências em várias instituições acadêmicas e científicas. No Brasil, ele visitou cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, onde interagiu com cientistas, estudantes e intelectuais locais.
Via Diário do Nordeste
Opiniões controversas
Seus diários de viagem, publicados posteriormente, revelam um homem complexo. Suas observações misturam admiração pelas belezas naturais e culturais dos países que visitou com comentários que refletem preconceitos da época.
Em suas anotações, Einstein mencionou encontros com várias personalidades locais. O principal foi o professor Aloísio de Castro, diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas outros também.
Os escritos expõem a visão paternalista e os estereótipos racistas que ele tinha sobre os habitantes locais, algo que era comum entre muitos europeus da época.
Apesar desses aspectos negativos, a visita de Einstein à América do Sul foi significativa para a comunidade científica local. Afinal, trouxe atenção internacional e reforçou a importância das teorias revolucionárias de Einstein.
A viagem também foi uma oportunidade para ele observar e refletir sobre diferentes culturas e sociedades. Mesmo que suas conclusões fossem frequentemente marcadas pelo eurocentrismo e pelo determinismo geográfico. Alguns apontam serem apenas as crenças populares entre os intelectuais ocidentais do final do século XIX e início do século XX.
Seja como for, a figura e personalidade do cientista segue renomada, agora um pouco mais humana.
Fonte: Folha de Pernambuco, Ciência e Cultura
Imagens: Folha PE, Diário do Nordeste