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O Homem que Ri: a história do filme de quase 100 anos que inspirou Coringa

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Antes de Coringa, existia um personagem mais antigo, mais profundo e mais complexo: O Homem que Ri. Você nem deve imaginar que existe essa inspiração, mas, de fato, o vilão amado do Batman é quase uma cópia dessa referência.

Em algum momento de 1928 nascia a inspiração do palhaço psicótico, mais especificamente quando o diretor expressionista Paul Leni lançou sua bizarra adaptação do livro de Victor Hugo, ‘O Homem que Ri’.

A vida do Coringa

Via Globo

O Coringa é, provavelmente, o maior vilão dos quadrinhos. Tanto na DC Comics quanto nas suas concorrentes, especialmente a Marvel, ele se destaca como um dos personagens mais marcantes, complexos e misteriosos de todo o universo pop.

Surgido pela primeira vez na edição de estreia dos quadrinhos do Batman, em abril de 1940, o Coringa foi o arqui-inimigo inicial do Homem-Morcego.

Incrivelmente, foi idealizado pelo trio de quadrinistas Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson como um personagem de aparição única. O antagonista seria apenas um trampolim para que Bruce Wayne se tornasse a estrela da série.

E isso é evidente nos detalhes: na leitura inaugural, o Coringa era apenas descrito como um “gênio do crime com algum senso de humor”. Os planos não seguiram como o imaginado. Ao longo da década de 1940, o vilão reapareceu várias vezes, tornando-se uma figura de destaque em Gotham City.

Sim, o retorno do Coringa aos quadrinhos com certa insistência se devia principalmente à sua popularidade entre os fãs. Afinal, tinha o visual colorido, o cabelo penteado para trás junto ao sorriso macabro, tudo isso criou uma legião de admiradores.

Talvez pela grande quantidade de crianças aderindo aos quadrinhos, o personagem, no final dos anos 1940, foi reformulado como apenas um pregador de peças inofensivo.

Isso não agradou e o Coringa caiu no esquecimento nas décadas de 1950 e especialmente 1960 — mesmo que estivesse na TV, na clássica série, interpretado por Cesar Romero.

Grande retorno

Seu verdadeiro retorno aconteceu na década seguinte e sua popularidade aumentou significativamente nos anos 1990, quando Jack Nicholson interpretou o Príncipe do Crime pela primeira vez no cinema, em uma de suas atuações mais icônicas. Em 1989, no filme “Batman” de Tim Burton, Nicholson trouxe o Coringa à vida.

Não por acaso essa encarnação é tão memorável: Nicholson recebeu o incrível cachê de 90 milhões de dólares, o maior salário de um ator até então.

A versão do Coringa que conhecemos hoje surgiu no final dos anos 1990, ganhando ainda mais destaque com a HQ de Alan Moore, “A Piada Mortal” (1998). Ele é obscuro, assustador; um homem (ou monstro) de origens praticamente impossíveis de confirmar, representando o mal encarnado (sem motivação material, visando apenas causar pânico em Gotham e fazer o Batman sofrer).

Dez anos depois, Heath Ledger elevou o personagem a um nível além da imortalidade, tornando-o uma referência para atores, diretores, escritores e praticamente qualquer pessoa que busca criar um personagem tão complexo ou entregar uma atuação tão realista.

Via Globo

Embora Jared Leto tenha assumido o papel em “Esquadrão Suicida” (2016), o reconhecimento crítico ao personagem só veio três anos depois, quando Joaquin Phoenix interpretou Arthur Fleck em “Coringa”.

Tanto Ledger quanto Phoenix fizeram do Coringa um dos poucos personagens a ganhar o Oscar em filmes e com intérpretes diferentes.

Iguais, mas nem tanto

Ao todo, são 84 anos de história. E o Coringa jamais foi esquecido — e nem será. Mas como? O que faz o Coringa tão especial? Talvez esteja relacionado às suas origens.

Não narrativamente, mas conceitualmente. Ele é uma criação direta de um dos mais clássicos personagens e de um dos filmes mais icônicos da história do cinema: “O Homem que Ri”, de 1928.

“O Homem que Ri”, um filme americano mudo do final dos anos 1920 que é uma adaptação do livro homônimo do escritor Victor Hugo.

No enredo, escrito originalmente em 1869, o jovem Gwynplaine é sequestrado a mando do Rei pelo crime de traição cometido por seu pai, o Lorde Clancharlie.

Como castigo pelo erro do patriarca, o garoto tem o rosto deformado, ficando com um sorriso permanente. Após a morte do pai, Gwynplaine é adotado pelo dono de um circo e transformado em uma das atrações do show de horrores.

Renegado pela sociedade, visto como um monstro e uma mera atração, o protagonista se confronta em duas coisas. Uma, o amor da jovem Dea, uma garota cega, e a promessa de destruição pelo bobo da corte do Rei James II.

O visual do personagem é facilmente reconhecível. Cabelos penteados para trás, uma maquiagem escura que destaca os olhos, o rosto coberto por uma base clara. Isso cria um contraste com os olhos, e, claro, o principal de tudo: um sorriso assustadoramente gigantesco.

Coincidência? Acho que não

A semelhança não é mera coincidência: os quadrinistas Kane, Finger e Robinson confirmaram que o visual do Coringa veio de Gwynplaine, do filme “O Homem que Ri”.

E “semelhança” é uma palavra muito modesta para comparar os dois personagens. Eles são praticamente idênticos.

O ator Conrad Veidt, que interpretou Gwynplaine em 1928, e o desenho do Coringa dos quadrinhos de 1940 têm até o formato do rosto semelhante: ambos possuem rostos alongados, quase quadrangulares, e queixos finos.

Via UOL

Gwynplaine e o Coringa das HQs também aparecem muitas vezes curvados. A diferença é que Gwynplaine se curva por vergonha, enquanto o Coringa pode aparecer curvado ocasionalmente como uma expressão corporal que sugere uma certa perversidade oculta.

A combinação foi extremamente bem-sucedida. A dramaticidade do protagonista de “O Homem que Ri” deu ao Coringa uma aparência especialmente abstrata: apesar da bondade e graciosidade de Gwynplaine, seu visual assustador é impossível de ignorar.

Ele é um personagem de duas faces, desafiando a máxima “não julgue um livro pela capa” e enfatizando que a verdadeira beleza está no interior.

O Coringa, por outro lado, é o completo oposto: ele é o mal puro, visual e essencialmente. Não há bondade oculta sob seu rosto marcado; ele é exatamente o que aparenta ser.

Essências

Claro, apenas o visual de Gwynplaine foi inspiração para o personagem dos quadrinhos. Contudo, parte da essência de ambos é semelhante: tanto ele quanto o Coringa são rejeitados pela sociedade.

A diferença é que “O Homem que Ri” encontra uma saída para o sentimento de rejeição através do amor. Enquanto isso, o Coringa a encontra por meio do caos e da maldade.

Quase 100 anos após o lançamento do filme “O Homem que Ri” e 84 anos após a primeira aparição do Coringa nos quadrinhos, o arquétipo permanece um ícone atemporal, sempre se reinventando sob novos contextos culturais.

 

Fonte: Globo

Imagens: UOL, Globo, Globo

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