Ciência e Tecnologia

Por que a Tesla faz carros elétricos e a Apple não consegue emplacar o seu

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Nos últimos dez anos, o carro da Apple tenta surgir no mercado, visando competir com a Tesla. O projeto inicialmente prometia revolucionar a indústria automobilística, potencialmente colocando a Apple em pé de igualdade ou até mesmo ultrapassando a Tesla, que estava nos estágios iniciais de sua jornada.

Contudo, após uma década de esforços, o jornal The New York Times reportou que o projeto foi cancelado. Mas por que a Apple não conseguiu concretizar seu próprio veículo?

Sucesso da Tesla

Via Wikimedia

O sucesso da Tesla é multifacetado e difícil de resumir em poucos pontos. A compra de uma fábrica da Toyota em Freemont, Califórnia, foi crucial para aumentar a produção em larga escala.

Além disso, o lançamento bem-sucedido de ações na NASDAQ, uma bolsa de valores mais alinhada com o setor tecnológico, proporcionou capital para o desenvolvimento de veículos próprios, como o Model S, que se tornou um grande sucesso.

O rápido crescimento da Tesla no mercado resultou no lançamento de outros modelos, como o SUV Model X e o sedã compacto Model 3, todos muito bem recebidos e considerados marcos na era dos veículos elétricos. Esse sucesso global contribuiu para a ascensão de Elon Musk como uma das pessoas mais ricas do mundo.

Esse cenário influenciou a Apple, levando a considerar uma incursão no segmento automotivo, que cada vez mais se assemelha ao setor tecnológico. Por que não tentar aproveitar esse mercado em ascensão?

Carro da Apple?

Ao invés de buscar inicialmente a criação de um carro mais simples como uma base para modelos futuros mais sofisticados, a Apple optou por investir em um automóvel repleto de inovações. A propulsão seria totalmente elétrica, seguindo a tendência do mercado.

O nível de automação seria tão avançado que alcançaria o grau 5, dispensando a necessidade de volante ou pedais. O para-brisa seria transformado em um vasto display head-up, enquanto o teto seria projetado para absorver o calor solar e controlar a temperatura interna.

Esta abordagem certamente teria sido elogiada por Steve Jobs, que faleceu em 2011, antes do anúncio do “Apple Car” ou “iCar”, como foi informalmente chamado.

Contudo, essa ambição elevada pode ter sido um dos principais obstáculos para o progresso e, eventualmente, o abandono do projeto automotivo pela Apple.

Além disso, a necessidade de um avanço técnico extremo era evidente, algo com que a empresa já estava acostumada em seus produtos como os computadores Macintosh, iPod, iPhone, iPad, Watch, entre outros.

O posicionamento de mercado da Apple em outros segmentos tecnológicos também representava um desafio significativo.

Como observa Ricardo Bacellar, um Conselheiro Consultivo para a indústria da mobilidade, a empresa se estabeleceu como uma marca de grife e luxo, o que não se alinha facilmente com os altos volumes típicos da indústria automobilística.

A situação foi ainda mais complicada devido ao contexto desafiador do segmento de carros elétricos. Entrar nesse mercado significava enfrentar uma concorrência acirrada e margens de lucro reduzidas, tornando a empreitada ainda mais arriscada e custosa.

Via UOL

Outras empresas conseguiram

Alguns dos desafios mencionados não afetaram a Xiaomi, uma empresa que também se concentra em eletrônicos e já lançou seu primeiro automóvel, o sedã SU7.

O mercado de veículos elétricos na China é o maior do mundo, assim como a cadeia de suprimentos, o que resulta em uma economia de escala significativa e também concentra os principais fabricantes de baterias.

Essas vantagens se somam a um ritmo de trabalho acelerado, algo que seria difícil de alcançar sob as regulamentações da maioria dos países ocidentais. Não é por acaso que a Apple produz uma parte significativa de seus produtos na China.

A situação dos veículos elétricos ao redor do mundo está marcada pela queda na demanda e aumento dos custos, levando a reduções nos investimentos.

Isso tem sido observado na Ford, General Motors e outras, ao contrário do que acontece no país asiático. Não é surpreendente que os Estados Unidos tenham quadruplicado os impostos sobre a importação de automóveis chineses, de 25% para 100%.

No mercado de eletrônicos, o carro da Apple não existe, mas ela investe em evolução anual. Produtos consagrados foram lançados inicialmente com menos recursos e, às vezes, com uma obsolescência programada controversa.

Outros são introduzidos de forma inicial e aparentemente não totalmente prontos, como o pesado e pouco prático Apple Vision Pro, um óculos de realidade virtual que ainda precisa de avanços tecnológicos.

No setor automotivo, as gerações dos modelos duram anos e grandes atualizações são menos frequentes.

Uma estratégia possível seria adotar várias atualizações incrementais, como faz a Tesla, cujos produtos permanecem em uma mesma geração desde seus lançamentos. O Model S é de 2012, o Model X de 2015 e o Tesla 3 foi introduzido em 2017.

Previsões

Prevê-se que novas “encarnações” sejam apresentadas no próximo ano, se todos os prazos forem cumpridos. Estabelecer uma linha de produtos ampla contribui para oferecer “um carro para cada pessoa”, algo que também demandaria um investimento significativo por parte da fabricante de eletrônicos.

É importante ressaltar que estamos lidando com períodos de tempo distintos. Nos dias de hoje, talvez nem mesmo a Tesla teria conseguido alcançar o sucesso que alcançou.

Entretanto, isso não significa que os cerca de US$ 10 bilhões investidos no projeto veicular (aproximadamente R$ 50 bilhões) serão desperdiçados, muito pelo contrário.

Mesmo que parte das duas mil pessoas envolvidas no projeto esteja sendo realocada – embora cortes ainda sejam esperados – as inovações tecnológicas desenvolvidas também serão aproveitadas em outras áreas da empresa.

Além disso, o projeto do carro da Apple ainda pode ressurgir, mas talvez em um momento mais oportuno.

 

Fonte: UOL

Imagens: UOL, Wikimedia

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