A mudança climática pela qual a Terra está passando é uma das mais drásticas da história do planeta. Isso vem afetando o mundo de várias maneiras diferentes e talvez caminhe para um ponto em que se torne cada vez mais difícil a nossa existência. Um dos pontos que preocupa bastante todas as pessoas é a elevação do nível do mar. Justamente por isso que vários estudos sobre esse tema são feitos.
Um deles foi publicado, nessa terça-feira, na revista Nature Geoscience e sugeriu que o risco de elevação do nível do mar por conta do aquecimento global pode ser bem maior do que mostram as projeções atuais. Isso seria verdade por conta das infiltrações de águas oceânicas em mantos de gelo da Antártida, que consequentemente faria com que o derretimento fosse acelerado.
Os pesquisadores viram essa infiltração como um possível ponto de inflexão. E esse processo aconteceria assim: a água quente que vem dos oceanos iria derreter as cavidades sob os mantos de gelo, consequentemente o tamanho dessa cavidade iria aumentar e fazer com que um fluxo de água maior circule no local. Os pesquisadores chamaram esse processo de retroalimentação.
Elevação do nível do mar
Um só planeta
De acordo com Alexander Bradley e Ian Hewitt, autores do estudo, mesmo que o aumento de temperatura seja pequeno através dessa água infiltrada, ele pode gerar um derretimento de gelo grande. “A cada décimo de grau de aquecimento do oceano, chegamos cada vez mais perto de ultrapassar esse ponto de inflexão”, disse Bradley.
Na visão dos pesquisadores, os modelos atuais que analisam o derretimento dos mantos de gelo não levam em consideração o efeito da retroalimentação. Além disso, colocar esse fenômeno nos cálculos pode fazer com que as previsões para o futuro do planeta sejam alarmantes por conta da elevação do nível do mar.
Possível causa
Iberdrola
Muito se fala sobre essa elevação do nível do mar, mas nem sempre é pontuado algum evento em específico que possa tê-lo acelerado. Contudo, um estudo mostrou que entre junho de 2014 e maio de 2016, o nível do mar aumentou 15 milímetros, o que é uma quantidade impressionante.
Mesmo que na prática esse aumento não seja tão maior do que o comprimento de uma unha, na realidade, ele foi um salto bem assustador nas tendências de longo prazo. Por conta disso que esse novo estudo sugere que um período climático extremo e incomum o impulsionou.
Desde 1993, o nível médio global do mar aumentou mais de nove centímetros. Essa mudança começou a ser monitorada nesse ano em que os satélites da NASA circulavam pela Terra e monitoravam as mudanças do nível do mar.
Tendo esses conjuntos de dados de longo prazo, os pesquisadores fizeram uma estimativa de que os níveis médios globais do mar deveriam subir aproximadamente quatro milímetros por ano entre 2014 e 2016. Contudo, essa média foi mais do que o dobro do esperado.
Um novo estudo feito por uma equipe de oceanógrafos do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS) ligou esse aumento com eventos consecutivos de El Niño no Oceano Pacífico. Ao que tudo indica, eles aceleraram o aumento do nível do mar quando mudaram os padrões de chuva e seca na bacia Amazônica.
O El Niño é uma mudança irregular nos padrões dos ventos e nas temperaturas da superfície do mar que vai oscilando para frente e para trás no oceano pacífico tropical. Com essa mudança nos ventos alísios, as águas quentes são empurradas para a costa oeste das Américas ou para a Ásia.
Por conta de dois eventos desses consecutivos, em 2014-2015 e 2015-2016, o nível médio global do mar aumentou 15 milímetros. Dentre esses dois, o de 2015-2016 foi mais extremo, tanto que 2016 passou 2015 bem rápido como o ano mais quente já registrado.
“Esses eventos incomuns do El Niño afetaram o padrão de precipitação em todo o mundo, diminuindo o armazenamento de água terrestre na bacia amazônica e, portanto, levando a um aumento da massa média global do oceano”, explicaram William Llovel e seus colegas no estudo.
Ainda conforme descobriram Llovel e seus colegas, 80% dos 15 milímetros a mais vistos entre 2014 e 2016 foi por conta do aumento da massa dos oceanos da Terra conforme o El Niño mudava os padrões das chuvas. Os outros 20%, os pesquisadores atribuíram à expansão do oceano conforme ele foi aquecendo.