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Por que os sonhos estão mais vívidos na quarentena?

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Os sonhos são uma parte fundamental das nossas vidas. Eles podem nos alertar sobre muitas coisas e mostrar detalhes, que não refletimos sobre, antes em nossas vidas. Eles são como um espelho da vida real que mostram nossa imagem de forma distorcida e em metáforas. Desde que o ser humano se entende como vivo, o olhar que as pessoas têm para os próprios sonhos é muito especial.

Não é à toa que, antigamente, esse momento do sono tinha um significado místico e mágico. Hoje vemos eles como respostas do nosso cotidiano. E conforme o momento que estamos vivendo, os sonhos também parecem mudar.

Como por exemplo, nos tempos de pandemia e isolamento que estamos vivendo é normal que as pessoas estejam com sonhos que pareçam mais reais ou então mais estranhos. E tudo isso tem uma explicação.

De acordo com especialistas, a mudança na rotina que o isolamento social provocou, junto com os sentimentos que foram aflorados pelo surto de coronavírus podem influenciar de forma direta a quantidade, qualidade e conteúdo dos sonhos das pessoas.

O nosso sono tem uma dinâmica que ele segue. Quando dormimos passamos por quatro fases do sono. Uma delas é chamada de sono REM, que é uma siga em inglês para Rapid Eye Movement, ou movimento rápido dos olhos. Essa fase é a do sono mais profundo e quando os sonhos são mais vívidos e intensos.

O sono REM é considerado a última fase do sono e acontece na maior parte em que estamos dormindo. E o seu pico principal é nas primeiras horas da manhã.

Explicações

Uma das explicações para essas mudanças pode ser por causa da duração do sono. Porque é possível que, na verdade, não estejamos sonhando mais, mas sim tendo mais horas de sono no dia. E isso faz com que mais momentos de sono REM sejam produzidos.

“Se o paciente está dormindo mais durante a noite por estar em quarentena, por mais tempo, ele pode até ter mais REM de fato em número absoluto”, diz Luciane Mello, otorrinolaringologista e especialista em Medicina do Sono.

Essa teoria é reforçada pelo psicólogo, Raphael Mello. Isso porque, já que as pessoas não tem que sair e ir até o trabalho e também não podem fazer outras atividades como lazer, por exemplo, é natural que todos durmam mais.

“As pessoas estão sonhando mais porque estão dormindo mais, e não só isso. Dormindo mais pela manhã. Neste período do dia, nós sonhamos mais naturalmente. Digamos que, de cara, essa explicação é a mais fisiológica que podemos dar pelo momento”, diz.

Acordando mais

Dormir por mais tempo não é a única explicação que os especialistas levantam. A quarentena também interfere na qualidade do sono, já que ela traz uma ansiedade e estresse maior para a rotina das pessoas. E de acordo com Luciana, esses fatores contribuem para que as pessoas se lembrem dos seus sonhos.

De acordo com ela, na quarentena além da ansiedade, maus hábitos como o aumento de consumo de bebida alcoólica podem levar ao que se chama de microdespertar. Esse é um evento cerebral que ajuda as pessoas a se lembrarem dos sonhos.

“Alguma pessoas estão mais ansiosas com as questões futuras profissionais, as sobrecargas de função por estarem trabalhando de casa, a mensagem do chefe que chega fora do horário do expediente, a falta de rotina”, exemplifica Luciana.

“Isso pode levar o paciente a ter mais despertares durante a noite, o que chamamos de recall do REM, que causa a sensação de lembrar mais dos sonhos e ter sonhado mais”, continua.

“Estamos em casa, com medo de sair e contrair uma doença que pode ser fatal. Os sonhos neste período são fruto de pensar que estamos sem muito controle, de não se ter o que fazer a não ser estar em quarentena e não tem como controlar esse vírus. E lidar com a ausência do controle é uma das maiores frustrações”, acrescenta Raphael.

Mais vívidos

O que ajuda a explicar o porquê os sonhos estão mais “reais” é a própria crise que estamos passando e que ajuda a intensificar o medo das pessoas. O psicólogo Raphael explica que os sonhos refletem os desejos e temores das pessoas. E nesse período existe o  medo da contaminação e da morte, nossa e de pessoas queridas.

“E quando estamos diante da morte, qual é o antídoto? A vida. Então, é totalmente natural que, em uma situação angustiante como a possibilidade da morte, o cérebro busque o prazer e afirme a vida”, explica.

Mais estranhos

E tem aquelas pessoas que dizem que seus sonhos estão mais estranhos nesse período. De acordo com Raphael, isso pode acontecer porque os sonhos refletem a insegurança do momento em que estamos vivendo.

“Muitas vezes, os sonhos dessa quarentena podem estar relacionados a problemas que são pontuais e derivados da vida com restrições. Tenho observado em pacientes que eles estão desorganizados e isso impacta na qualidade de vida e nos sonhos. E isso acaba fazendo com que as pessoas tenham sonhos com ou em momentos difíceis. São sonhos com cobranças, com fugas, sonhos de que estão caindo, lutando ou com algo que elas deixaram para trás”, comenta.

Os sonhos ainda podem nos revelar traços do nosso inconsciente e a situação atual em que estamos.

“O inconsciente é como uma caixinha de Pandora. Está tudo guardado na sombra e ele pode ser a fonte das angústias e injustiças que são perceptíveis desde a infância. Os sonhos estranhos trazem um conteúdo que já está dentro de nós. Com esta nova rotina e a iminência da morte, o cérebro faz com que os nosso sonhos tenham um conteúdo que já é nosso somado a uma situação que estamos vivendo hoje. Se pensarmos que o sonho é um viés para o nosso inconsciente, estamos falando que não só estão relacionados ao coronavírus, mas também a todos os medos e questões mais profundas. Muitas simbologias que vêm nos sonhos trazem medos infantis. E questões mal resolvidas e que estão na caixinha do inconsciente”, conclui.

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