Natureza

Rio Peel abriga 120 milhões de anos da história da Terra

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Pode parecer estranho, mas conhecer mais do rio Peel vai nos permitir acessar milhões de anos em informações sobre o nosso planeta.

Reconstruir a história da Terra é como montar um quebra-cabeça sabendo que algumas peças sempre estarão faltando.

Até recentemente, os paleontólogos acreditavam que grandes partes dessa história estariam irremediavelmente perdidas.

No entanto, pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA, conseguiram localizar um espaço único no Canadá. Ele possui registros do desenvolvimento da vida ao longo de 120 milhões de anos, oferecendo uma visão contínua e inédita do passado do nosso planeta.

Normalmente, os paleontólogos lidam com registros fósseis fragmentados, que representam apenas momentos breves em que as condições permitiram a fossilização de plantas e animais.

Mesmo assim, os registros costumam parar por conta de vários motivos, como processos geológicos que comprometem partes das evidências, nos deixando com peças sem sentido.

Via Wikimedia

Lacunas faltando

Uma das maiores lacunas no registro fóssil é do período Paleozoico, uma era crucial, mas com poucas evidências preservadas.

Isso mudou com a descoberta nas margens do rio Peel, no Canadá, próximo ao Delta do Mackenzie no Mar Ártico. Ali, se encontraram rochas que documentam a vida marinha de 490 a 370 milhões de anos atrás.

Esses depósitos de informações vem de Alto Cambriano, quando existia pouco oxigênio para continuar a vida animal. Com isso, vão até o Devoniano Médio, quando os peixes dominaram os mares. Com poucas interrupções, incluem também os períodos Ordoviciano e Siluriano.

Erik Sperling é o autor principal do artigo que descreve a descoberta. Ele diz que essas informações do rio Peel são sem precedentes. Ter tanto da história da Terra em um só lugar é impressionante.

Além disso, não há nenhum outro lugar no mundo onde possamos estudar um registro tão longo da história da Terra, sem mudanças significativas em aspectos como profundidade da água ou tipo de bacia.

Atmosfera da Terra tinha pouco oxigênio

O estudo conduzido por Erik Sperling foca na evolução dos níveis de oxigênio. Nos primórdios da Terra, a atmosfera e os oceanos continham pouquíssimo oxigênio.

O Grande Evento de Oxidação, ocorrido entre 2,5 e 2,2 bilhões de anos atrás, aumentou a quantidade de oxigênio, mas ainda não o suficiente para sustentar a vida como a conhecemos hoje.

A segunda grande mudança nos níveis de oxigênio, que os trouxe mais próximos dos níveis atuais, permanece incerta. A equipe de Sperling sugere que essa mudança pode ter ocorrido há 800 milhões de anos ou até mais recentemente.

O artigo aponta que a atmosfera não tinha tantos níveis de oxigênio, assim como hoje, como acreditavam os cientistas. “Os primeiros animais ainda viviam em um mundo de baixo oxigênio”, afirmou Sperling.

Além de oferecer uma melhor compreensão dos níveis de oxigênio, esse registro contínuo pode revelar muito sobre as espécies que habitavam esses mares, que na época não estavam na borda do Círculo Polar Ártico.

Via Wikimedia

Importância do rio Peel

Este registro também pode servir como uma ferramenta de calibração para outros depósitos fósseis, ajudando a datar com mais precisão outros achados.

No entanto, para fazer comparações ao longo de enormes períodos de nossa história e entender as tendências de longo prazo, é preciso de um registro contínuo, explicou Sperling.

Por isso, a descoberta do local não foi fácil. A área é tão inacessível que Sperling e sua equipe tiveram que chegar de helicóptero e abrir caminho na vegetação densa com facões.

O trabalho de campo só foi possível por um curto período, antes que o inverno chegasse. Assim, eles correm contra o tempo, para tentar descobrir mais do rio Peel antes que mais coisas se percam.

 

Fonte: Olhar Digital

Imagens: Wikimedia, Wikimedia

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